Flamengo atropela Vitória: Filipe Luís acerta escalação e conduz 8 a 0 histórico no Brasileirão

Oito a zero no Maracanã: a noite em que tudo encaixou

Oito a zero. No Maracanã, em uma segunda-feira que entrou para o arquivo das grandes exibições recentes do futebol brasileiro. O Flamengo confirmou a condição de líder do Brasileirão e atropelou o Vitória pela 21ª rodada, resultado que agora o coloca com 46 pontos, quatro à frente do Palmeiras e cinco acima do Cruzeiro.

O roteiro começou ainda na escolha da escalação. Filipe Luís, técnico rubro-negro, bateu o martelo por um time forte e equilibrado, com Pedro como referência na frente e o trio criativo formado por Arrascaeta, Gerson e De La Cruz ditando o ritmo por dentro. A defesa teve nomes experientes como Léo Pereira e David Luiz, com Rossi dando segurança no gol.

Havia duas ausências conhecidas. Erick Pulgar seguiu em recuperação de lesão e não esteve disponível. Ayrton Lucas, que seria titular, ficou fora por um assunto familiar de última hora. Mesmo assim, o plano se manteve: intensidade alta, ocupação de espaço no campo ofensivo e circulação de bola para abrir a defesa baiana.

Filipe deixou claro que a escolha passou por dois filtros: respeito ao adversário e leitura fiel do momento físico do elenco. O calendário ajudou. Com cinco dias desde o duelo anterior, contra o Internacional, os atletas chegaram descansados. Isso se viu no ritmo do time do primeiro ao último minuto.

Em campo, a equipe jogou como quem sabe o que quer. A pressão pós-perda funcionou, as linhas ficaram compactas e a bola girou com paciência até encontrar o passe vertical. A partir daí, o Vitória cedeu espaço e viu o placar subir sem reagir. Foi daquelas atuações em que o conjunto vale mais do que qualquer gesto individual.

Filipe chamou a atuação de “fantástica e completa” na coletiva. Não é exagero. O time conseguiu alternar aceleração e controle, acertou escolhas no terço final e não perdeu a cabeça nem quando a vantagem se tornou larga. A ideia do treinador, de manter padrão independentemente de quem entra, apareceu clara.

Pedro cumpriu o papel de farol ofensivo. Segurou zagueiro, abriu corredor e participou das jogadas que desmontaram a última linha rival. Atrás dele, Arrascaeta foi cérebro, achando passes entre linhas; Gerson, o elo entre a recuperação e a criação; De La Cruz, o motor que dá volume por dentro e chega à área como um meio-campista moderno.

Sem Ayrton Lucas, havia a curiosidade sobre o corredor esquerdo. A solução passou por triangulações simples, aproximações curtas e inversões para o lado oposto quando a pressão bloqueava a saída. Nada mirabolante, mas eficiente. Quando a engrenagem está azeitada, o jogo flui.

O Vitória viveu a outra face da história. O time de Fábio Carille chegou ao Maracanã na 17ª posição, com 19 pontos, sem vencer há cinco rodadas. O plano de resistir nos primeiros minutos e tentar contra-ataques rápidos não sobreviveu à intensidade rubro-negra. Quando a equipe baiana tentou subir linhas, tomou bolas nas costas; quando recuou, foi empurrada para dentro da própria área.

O ambiente pesou. A pressão de jogo grande no Rio, com o líder em alta, cobra decisões perfeitas. Não foi o caso do Vitória, que cometeu erros em sequência, especialmente nas coberturas laterais e na proteção da entrada da área. Em partidas assim, cada falha vira um golpe no placar e no emocional.

O que esse 8 a 0 muda? Na prática, consolida a confiança da equipe de Filipe Luís na reta intermediária do campeonato. O time passa a gerir a liderança com uma margem mínima de segurança e pode trabalhar ajustes sem a urgência dos que correm atrás. O nível de execução exibido no Maracanã serve de referência interna para as próximas semanas.

  • Escalação e plano: time-base mantido, com Pedro, Arrascaeta, Gerson e De La Cruz protagonizando por dentro.
  • Desfalques: Erick Pulgar (lesão) e Ayrton Lucas (questão familiar) ficaram fora.
  • Contexto físico: cinco dias de intervalo desde a vitória sobre o Internacional.
  • Adversário: Vitória em 17º, com 19 pontos e jejum de cinco jogos sem vencer.
  • Resultado: 8 a 0 histórico e liderança ampliada para 46 pontos (quatro à frente do Palmeiras e cinco do Cruzeiro).

Há outro ponto que vale sublinhar: a leitura de jogo do banco. Mesmo com o placar elástico, a equipe não perdeu a organização. Isso fala de treino, de repetição e de um vestiário afinado com o que o técnico pede. Quando o elenco compra a ideia, a execução aparece do primeiro ao último segundo.

Do lado baiano, a tarefa é prática e psicológica. Reorganizar as linhas, reduzir o número de perdas em zonas perigosas e recuperar confiança para os confrontos diretos na luta contra o rebaixamento. Jogos assim deixam marca, e a resposta passa por ajustes simples: compactar melhor, encurtar espaço entre zagueiros e volantes e acertar a primeira saída para quebrar a pressão.

Filipe Luís, a assinatura do treinador e o recado ao campeonato

Filipe Luís, a assinatura do treinador e o recado ao campeonato

Ex-lateral e líder em campo por anos, Filipe Luís transformou a visão de jogo de quem marcava e construía pelo lado em um plano de equipe inteiro. A defesa começa no ataque; a criação é coletiva; a bola corre mais do que os jogadores. Contra o Vitória, a tese virou prática sem ruído.

A gestão do elenco também pesou. Com o grupo praticamente completo, o treinador resistiu à tentação de rodar por rodar. Preferiu força máxima, ritmo alto e a chance de “matar” o jogo cedo para controlar depois. Deu certo. É o tipo de decisão que fortalece a autoridade do técnico aos olhos do vestiário.

A noite no Maracanã deixa lições simples. Primeiro: a base técnica do time é alta o suficiente para dominar com a bola. Segundo: a pressão coordenada após a perda segue como arma para sufocar adversários que tentam sair curto. Terceiro: quando o meio-campo acerta o timing do passe vertical, a equipe se torna quase inevitável.

Para o torcedor, fica a sensação de que o time chegou a um patamar de performance que não depende de um jogador só. Pedro finaliza e segura zaga, mas o gol nasce da soma de movimentos. Arrascaeta enxerga antes, Gerson conduz no tempo certo, De La Cruz dá perna e chegada. É uma cadeia. Quando cada elo cumpre a função, o placar tende a refletir.

O campeonato, por sua vez, ganhou um recado claro: o líder está confortável, mas não acomodado. Goleada desse tamanho fala de fome competitiva. Com a margem sobre os perseguidores imediatos, a equipe pode calibrar carga de treino, recuperar peças e preparar planos específicos para rivais que oferecem problemas diferentes dos que o Vitória apresentou.

Ao Vitória cabe reagir rápido. A tabela não espera e a zona de rebaixamento costuma punir quem demora a ajustar o básico. A atuação no Rio expôs buracos, mas também deixa um mapa de correções: proteger a meia-lua, vigiar diagonal curta às costas dos laterais e cuidar da segunda bola, que gerou perigo repetidas vezes.

No fim, a noite que começou com uma escalação convicta terminou com a confirmação de uma liderança forte. A palavra de Filipe na coletiva resume o clima: “fantástica e completa”. Na prática, foi isso mesmo — um time que respeitou o adversário, confiou no próprio plano e entregou uma atuação de manual diante da sua torcida.