Implanon: planos de saúde passam a cobrir implante anticoncepcional com eficácia de 99%

Planos passam a cobrir o implante: o que muda na prática

Um anticoncepcional com eficácia acima de 99% e duração de até três anos entrou no rol obrigatório dos planos de saúde. Desde 2 de janeiro de 2025, por decisão da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o implante subdérmico de etonogestrel — conhecido comercialmente como Implanon — deve ser coberto pelas operadoras. O preço elevado no mercado privado, que costuma variar de R$ 2 mil a R$ 4 mil, era um muro difícil de transpor. Com a cobertura, a barreira financeira cai para milhões de mulheres.

A mudança veio pela Resolução Normativa nº 619, que atualizou o Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde. A regra vale para mulheres de 18 a 49 anos, com foco na prevenção de gravidez. Há atenção especial a grupos vulneráveis: mulheres em situação de rua, privadas de liberdade, trabalhadoras do sexo e pacientes que usam remédios com alto risco de má-formação fetal, como isotretinoína, metotrexato e talidomida.

O implante é uma haste bem pequena colocada sob a pele do braço. Ele libera hormônio de forma contínua e bloqueia a ovulação. A inserção leva poucos minutos, com anestesia local, e a remoção pode ser feita a qualquer momento, se a mulher quiser engravidar ou trocar de método. Não exige internação. É um método reversível e de longa duração, o que ajuda a reduzir falhas comuns do uso diário de pílulas.

A ANS colocou critérios para garantir segurança. O método é contraindicado para quem tem ou teve câncer de mama ou tumores dependentes de progestágeno, alergia ao etonogestrel, sangramento vaginal sem causa definida, doença hepática grave ou histórico de trombose. Nessas situações, o médico deve apontar alternativas seguras.

Além dos planos, o Ministério da Saúde anunciou a oferta do implante no SUS. A previsão é distribuir 500 mil unidades no primeiro ano e atingir 1,8 milhão até 2026, com investimento aproximado de R$ 245 milhões. Estados e municípios devem priorizar populações com maior vulnerabilidade e serviços que já fazem planejamento reprodutivo.

Como acessar, quem tem direito e quais cuidados

Como acessar, quem tem direito e quais cuidados

Se você é beneficiária de plano de saúde, o caminho começa na consulta com ginecologista ou médico de família. É essa avaliação que confirma a indicação, checa contraindicações e registra a solicitação no prontuário. A operadora pode pedir autorização prévia, mas não pode negar cobertura quando os critérios são atendidos.

  • Consulta médica: peça relatório simples com indicação clínica do implante.
  • Autorização: protocole a solicitação no plano (app, site, e-mail ou posto de atendimento).
  • Prazos: para procedimentos eletivos, as regras da ANS costumam fixar prazos máximos, que giram em torno de até 21 dias para realização após a autorização, dependendo da complexidade e rede disponível.
  • Local do procedimento: a inserção deve ser feita por profissional treinado na rede credenciada.

Se houver negativa, peça a justificativa por escrito. Registre reclamação no SAC da operadora e na ouvidoria. Persistindo a recusa, abra um protocolo na ANS com o número da negativa em mãos. A cobertura é obrigatória. Em caso de falta de prestador na rede ou demora injustificada, cabe direcionamento para outro serviço ou reembolso conforme contrato.

Carência vale? Se você contratou o plano há pouco tempo, podem existir prazos de carência de acordo com o contrato. Para quem já cumpriu carência, a cobertura passa a valer normalmente. Coparticipação e franquia podem ser aplicadas conforme o plano, mas não podem impedir o acesso ao procedimento.

Como funciona pelo SUS? Procure a Unidade Básica de Saúde. Profissionais de enfermagem e médicos fazem a avaliação, pedem exames quando necessário e fazem o agendamento para inserção. A oferta deve aumentar de forma gradual, seguindo a logística de distribuição aos estados e municípios. A prioridade inicial será para as populações definidas pelo Ministério da Saúde e serviços com maior demanda.

Efeitos colaterais existem, e é bom saber antes. O mais comum é alteração do padrão menstrual: pode ter escapes, ciclos irregulares ou ausência de menstruação. Também podem aparecer dor de cabeça, acne, sensibilidade nas mamas, oscilação de humor e, às vezes, ganho de peso. Em geral, esses efeitos tendem a melhorar com o tempo, mas, se incomodarem, converse com o médico sobre opções.

O implante não protege contra infecções sexualmente transmissíveis. Camisinha continua sendo importante, especialmente fora de relações estáveis e testadas.

Interações com remédios: alguns medicamentos que induzem enzimas do fígado, como certos anticonvulsivantes e antibióticos específicos (ex.: rifampicina), podem reduzir a eficácia do implante. Informe sempre todos os remédios que você usa para o seu médico avaliar riscos e alternativas.

Remoção e troca: o mesmo serviço que faz a inserção deve cobrir a retirada, seja no plano de saúde, seja no SUS. Se a retirada for antes de três anos por escolha da paciente ou por efeitos adversos, o procedimento também é coberto. Após a remoção, a fertilidade costuma voltar rápido.

Quem pode se beneficiar mais? Mulheres que têm dificuldade com métodos de uso diário, que tomam remédios com alto risco de má-formação fetal, que vivem em contextos com menor acesso a consultas frequentes, e adolescentes e jovens adultas que buscam um método discreto e de longa duração — sempre com avaliação individual. O método também pode ser indicado no pós-parto, a critério médico, por não conter estrogênio.

Documentos úteis ao pedir a cobertura no plano:

  • Relatório médico com indicação e CID quando aplicável;
  • Pedido de procedimento com descrição do implante de etonogestrel;
  • Exames recentes se o médico solicitar (por exemplo, teste de gravidez quando indicado);
  • Documento com foto e carteirinha do plano.

Critérios clínicos que costumam ser avaliados:

  • Confirmação de que não há gravidez em curso;
  • Ausência de contraindicações como câncer de mama, doença hepática grave ou histórico de trombose;
  • Avaliação de uso concomitante de medicamentos que podem reduzir a eficácia;
  • Orientação sobre efeitos colaterais e sinais de alerta.

Por que essa medida importa? Métodos reversíveis de longa duração, como o implante, estão entre os mais eficazes para prevenir gravidez não planejada, segundo diretrizes internacionais. Ao ampliar o acesso via planos e SUS, a política tende a diminuir interrupções no uso do anticoncepcional, reduzir falhas e aliviar a pressão sobre serviços de pré-natal e maternidade. Também dá às mulheres mais autonomia para planejar o tempo da maternidade.

Se você se interessou, o passo seguinte é simples: marque a consulta, tire suas dúvidas e avalie se o implante faz sentido para sua vida e seu corpo. O direito está garantido — e a porta de entrada é a orientação qualificada.